Os maiores beneficiados com os alimentos doados (frutas, verduras e legumes) são as famílias (em situação de vulnerabilidade) assistidas pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).
Três desses equipamentos em Unaí, vinculados à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania (Semdesc), atendem dezenas de famílias.

As frutas, verduras e legumes que passam pelo Banco de Alimentos atendem ainda equipamentos (também sob gestão da Semdesc) como Casas Lares (para acolhimento de crianças e adolescentes), Residência Inclusiva (para pessoas com deficiência de 18 a 59 anos) e Casa de Acolhida (para migrantes de outras cidades em passagem por Unaí).

Outra leva de alimentos do banco chega ainda a instituições socioassistenciais como Sociedade São Vicente de Paulo/Abrigo Frei Anselmo, Apae, Audec (Associação Unaiense de Desenvolvimento e Cidadania), entre outras.

E seguem aumentando os alimentos que chegam ao banco e são distribuídos. O quantitativo de frutas, verduras e legumes doados pulou de 300 quilos no último quadrimestre de 2022 para 3 toneladas a partir de janeiro.

A ideia da implementação do Banco de Alimentos nasceu em agosto de 2018, após uma visita do prefeito José Gomes Branquinho e da secretária Cláudia de Oliveira (Desenvolvimento Social e Cidadania) a um banco no Distrito Federal.

Lá, conheceram o funcionamento e vislumbraram a possibilidade de implantação em Unaí. Hoje, o banco unaiense é um caso de sucesso.

DOAÇÕES

Os doadores foram a mola propulsora do banco, que aderiram à filosofia desde o início (quando começaram as doações), em setembro de 22.

Antes do banco, o entendimento era simples: o alimento perdia o valor comercial e era jogado fora, porque às vezes estava com uma ponta estragada, fora do peso, maior ou menor do que o aceitável pelo mercado, com uma pequena mancha na casca. Ia parar na lata do lixo ou em algum chiqueiro.

Agora, é retirado da gôndola e vai direto para doação. Um ganho para todos, desde o comerciante até o beneficiário, passando pela Administração Municipal e pela empresa gestora do banco.

A ideia é que os doadores de alimentos para o banco sejam homenageados com reconhecimento público de parceria. 

No próximo 5 de maio, o Banco de Alimentos de Unaí completa um ano de existência. Mas só começou a receber efetivamente as doações em setembro.

De maio a agosto, a Adequare Gestão de Negócios – empresa contratada pela Prefeitura para cuidar do banco – preparou a infraestrutura do espaço físico (galpão no bairro Nova Canaã), elaborou o fluxo de produção, treinou as equipes de trabalho, mobilizou e sensibilizou os parceiros e, por fim, colocou o banco em funcionamento.

À Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania, cabe a manutenção da estrutura do banco, a aquisição de equipamentos para a produção e o acompanhamento diário do trabalho da Adequare.

No fim de cada dia de serviço, a diretora executiva e responsável técnica da empresa, nutricionista Monique Martins produz um relatório técnico das atividades. Além do relatório diário, outro mais consolidado é entregue ao final de cada mês de trabalho executado no banco.

COMO FUNCIONA

Seguindo o mapa do dia, uma equipe do banco vai até a empresa do doador buscar os alimentos “sem valor comercial” – por ter um amassadinho, estar fora do tamanho, do peso, ou uma casca mais escura. A primeira seleção, ou pente-fino, é feita no próprio estabelecimento.

Quando chega ao banco, o alimento doado passa por, pelo menos, mais duas seleções. Durante a separação, a limpeza, a higienização e o corte em pedaços. Cerca de 80% dos alimentos são picados, para a retirada de algum pedaço amassado ou machucado.

“São frutas, verduras e legumes que podem ter perdido o valor comercial lá no estabelecimento, mas estão próprios para consumo das famílias”, ressalta a nutricionista Monique. “Se recebemos um cacho de uva, analisamos bago por bago. A gente não trabalha com alimento passado, podre ou mofado”, assinala.

Os alimentos picados ou separados inteiros (20% não têm nenhum amassadinho) farão parte de um kit que será distribuído prioritariamente para as famílias atendidas pelos Cras de Unaí.

Na tarde dessa segunda-feira (24/4), a equipe preparava os kits que seriam destinados a 25 famílias assistidas pelo Cras Mamoeiro.

Cada kit com verduras, frutas e legumes pesa em torno de 10 quilos e, segundo Monique, a equipe do banco procura diversificar os produtos ofertados. Os produtos são embalados em plástico próprio e etiquetados. As etiquetas trazem especificações como armazenagem (na geladeira ou congelador), prazo para consumo e data de validade.

De acordo com Monique Martins, a equipe está verificando uma resposta muito positiva, ao ouvir que os beneficiários estão tendo experiências com alimentos que eles não conheciam. “Estamos tendo um aproveitamento muito bom de frutas, como uvas, morangos, pitayas (frutas nobres), que muitas pessoas não conheciam, ou não tinham o hábito de consumir”.

Segundo ela, há até um relato de uma mulher assistida pelo Cras Mamoeiro que afirmou nunca haver comido uma pera na vida dela. “Pois agora, ela está comendo por causa do banco”, alegra-se a nutricionista.

Além de levar o complemento alimentar às famílias, o banco (via Adequare) leva também conceitos sobre o que fazer com os alimentos e como fazer. “Porque uma coisa é você não ter nada na panela e, de repente, ter dez quilos de alimentos à disposição”, argumenta Monique.

“Como armazenar e aproveitar bem o alimento? Como mudar meus hábitos alimentares a partir do que estou recebendo?”. Estas e outras indagações feitas pela nutricionista são fios condutores das próprias palestras que ela ministra, direcionadas principalmente para as mulheres das famílias beneficiadas.

“Além das palestras, fazemos oficinas gastronômicas aqui no banco, onde as mães vêm cozinhar junto com a gente. Vêm aprender sobre alimentos saudáveis, sobre alimentação nutritiva”, revela Monique, ao acrescentar que as atividades são feitas mensalmente para esse público-alvo.

PEQUENOS PRODUTORES E MAIS ALIMENTOS NO BANCO

Com a aquisição dos alimentos dos pequenos produtores da agricultura familiar (do Programa Alimenta Brasil), a estimativa é que mais de 25 toneladas passem a circular mensalmente pelo banco unaiense a partir de 15 de junho. Uma conquista da Semdesc, que correu atrás. 

A Prefeitura de Unaí vai comprar diretamente desse pequeno produtor, que está se preparando para entregar uma cesta de 25 produtos da região – entre frutas, legumes e verduras. Os produtores são assistidos pela Emater.

Antes de começarem a efetuar as entregas diárias, os produtores passarão por uma capacitação para se adequarem a esse novo momento. Precisam se preocupar com a produção e em diversificar o cardápio de produtos ofertados. O Banco de Alimentos buscará os hortifrútis na porta dos produtores.

Já prevendo esse aumento no giro de alimentos dentro do banco, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania já solicitou ao departamento de compras da Prefeitura que adquira equipamentos para o aumento da produção.

Freezers para guardar polpa de frutas. Triturador de alimentos. Balanças suspensas. Climatizador para preservar a qualidade do alimento manipulado no banco. São alguns dos equipamentos que o município vai adquirir para o aumento previsto no giro da produção.

A Adequare também já prevê a contratação de, ao menos, mais três funcionários para atuar na linha de produção.

Quando tudo estiver pronto, a estimativa é que mais de 5 mil pessoas sejam beneficiadas diretamente com os produtos do Banco de Alimentos de Unaí.