“Educação sexual como intervenção no abuso sexual infantil” foi tema de capacitação para rede de assistência

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Assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, agentes sociais e outros servidores que atuam diretamente na rede de proteção social às crianças e adolescentes de Unaí participaram durante toda essa quarta-feira (27/7) de uma capacitação sobre a temática da educação sexual. O objetivo é qualificar os profissionais para prestar o atendimento mais adequado possível às crianças e adolescentes (e às famílias) em situação de vulnerabilidade/risco social ou que já foram vítimas de violência ou abuso sexual.


A secretária de Desenvolvimento Social e Cidadania de Unaí, Cláudia de Oliveira, explica que a necessidade dessa capacitação surgiu nos fóruns de discussão sobre o tema e nas campanhas do Maio Laranja e do 18 de maio (Dia Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes).


Entre as necessidades elencadas para a capacitação, melhor qualificar os profissionais da rede de proteção socioassistencial para fazerem a "Escuta Protegida ou Especializada" da criança ou do adolescente vítima de violências ou abuso e, assim, prestar a assistência ou o encaminhamento mais adequado e com menor impacto emocional/mental ou sofrimento da vítima.


Em Unaí, segundo Cláudia, "são altos" os números de casos e ocorrências de abuso sexual infantil, com aumento considerável das agressões durante a pandemia. Os abusos ocorrem principalmente dentro da casa da vítima, e os agressores ou são da própria família (pais, padrastos, avôs, tios e, excepcionalmente, mães) ou são pessoas em que a vítima possuía algum tipo de confiança: amigos chegados ou íntimos da família, profissionais com fácil acesso à criança.


"Nos últimos anos, o abuso sexual infantil é o que mais provoca acolhimentos pela rede pública de proteção", revela a secretária. Em boa parte das ocorrências, crianças ou adolescentes que tiveram seus direitos violados são retirados de suas casas ou de suas famílias (para cessar a violência) e são encaminhados para órgãos públicos de acolhimento, como as Casas Lares, vinculadas à Prefeitura e sob coordenação direta da Semdesc. O desafio é grande para as instituições públicas.


"EDUCAÇÃO SEXUAL NÃO É SOBRE SEXO, É SOBRE SEXUALIDADE"


"Porque envolve todas as dimensões humanas além do sexo. Envolve percepção e relacionamento com o próprio corpo, envolve limites de identidade, de afetividade. Então, o tema é muito além do sexo, é muito mais amplo".


Quem argumenta é a palestrante responsável pela capacitação, psicóloga Beatriz de Paula, do Cure Infância, ramo do Projeto Cure, da Organização Motirô, sediada no Distrito Federal e que atende crianças e adolescentes vítimas de algum tipo de violência.


Com mais de dez anos fazendo estudos e acompanhando casos, a psicóloga conclui que a proposta é levar o entendimento (aos profissionais) de que a instituição familiar é a principal responsável pelo processo de educação sexual, e as outras instituições devem colaborar com esse processo.


E que esse processo educacional é contínuo (sistemático e cotidiano) e segue a pessoa desde o nascimento e pela vida afora. "Essa educação (sexual) começa quando a pessoa nasce", frisou a palestrante.


Ela reconhece a dificuldade dos próprios profissionais (que atuam na rede de proteção socioassistencial) em lidarem com tema tão complexo, porque tem a ver com a própria vivência da sexualidade, da educação sexual recebida, pela história da pessoa enquanto pai, mãe, e profissional que interfere na vida de outros indivíduos e de outras famílias.


"Então, é difícil para o profissional que lida com isso entender o próprio papel na atividade, porque para falar de educação sexual, tenho de falar de mim enquanto criança e adolescente que fui, de mim enquanto pai e mãe que sou, de mim enquanto profissional que vou intervir na vida de outros indivíduos, de outras famílias".


É DIFÍCIL, MAS NECESSÁRIO


Na busca por tornar o tema mais leve e gerar o entendimento possível, a psicóloga palestrante deu exemplos, expôs situações, trocou informações e experiências, falou, ouviu, perguntou, respondeu.
Em suas exposições centrais, Beatriz de Paula falou sobre as fases do desenvolvimento da criança: a cognitiva (da capacidade do aprendizado e da compreensão do indivíduo) e a social (da vida de relações); e estabeleceu diferenciações entre "adultização" e "erotização".


"A gente adultiza a criança, erotiza a criança, de forma consciente ou inconsciente, sejam as instituições ou sejam as famílias. Isso é infelizmente comum e é um prato cheio para o abuso sexual", ensinou. Exemplos de casos foram dados e profissionais expuseram situações observadas no trabalho.


Depois a psicóloga discorreu sobre a educação sexual propriamente dita (que não é sobre sexo, mas sobre sexualidade). "É diferente, porque a sexualidade envolve várias dimensões: física, sociológica, biológica, social", ela explicou, dando exemplos e expondo casos sobre cada dimensão.


Por último, a palestrante apresentou aos profissionais os recursos lúdicos que podem ser usados para "ouvir" e "dialogar" com as crianças e adolescentes em cada fase da vida (0 a 3 anos, 3 a 6, 6 a 9, 9 a 12, 12 a 15, e acima dos 15 anos) e conforme sua capacidade cognitiva (capacidade de aprender e compreender).


Recursos lúdicos como a Caixa dos Segredos (para "externalizar algo" que a criança tenta esconder, como por exemplo, a ameaça de um agressor ou abusador), o desenho do próprio corpo (para analisar a consciência que a vítima possui de sua dimensão corporal), a música do "Não pode tocar" (recurso para ser ensinado à criança alertando-a para a única - ou únicas - pessoas que podem tocá-la).


Ao fim da palestra, os profissionais receberam uma lista de links de internet, de livros, filmes/vídeos e outros materiais complementares que podem acessar para aprofundar o tema.



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