CULTURA E TURISMO – RETROSPECTIVA 2021

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"Ano difícil, né? Que ano difícil!". A secretária municipal de Cultura e Turismo, Luciana Navarro, começou a entrevista "assim", tão logo mencionamos que falaríamos sobre 2021. Mas, otimista, Luciana disse também que foi um ano de muito aprendizado, principalmente para o setor cultural. Os desafios foram gigantes, e os avanços idem.


O primeiro grande desafio foi lidar com a Lei Aldir Blanc, que previa auxílio emergencial em dinheiro para fazedores de cultura, microempresários, associações, coletivos e toda a cadeia produtiva da cultura (tenda, iluminação, telões, sonorização e vários outros). "O setor cultural foi fortemente impactado pela pandemia, porque parou geral", lembra Luciana.


As atividades culturais presenciais, porém, só retornaram em setembro, com o anúncio de medidas que flexibilizaram a mobilidade do público. Aos poucos, foram voltando programas como o Cultura em Movimento e seus desdobramentos, como o Música na Feira e as apresentações temáticas em apoio a políticas públicas em setores como saúde, educação, meio ambiente, entre outros. A Banda Municipal voltou a ser requisitada, mas a escola de música, só volta no ano que vem.


Antes desse retorno gradual das atividades, porém, as apresentações on-line foram a alternativa encontrada para músicos, artesãos, artistas cênicos, foliões mostrarem seu trabalho. Os recursos digitais também foram importantes para o registro audiovisual de personagens e aspectos de festas tradicionais do calendário unaiense, como a Romaria de Santo Antônio do Boqueirão e a Festa da Moagem e do Carro de Bois.


Em 2021, uma parceria entre PMU e Sebrae resultou num curso intensivo de capacitação para os diversos segmentos que formam o mosaico cultural unaiense. Foi também o ano em que Unaí adequou sua legislação ao Sistema Nacional de Cultura, deu posse aos Conselhos Municipais (de Cultura, de Patrimônio Histórico e de Turismo), tombou a Festa da Moagem como patrimônio imaterial de Unaí, resgatou a Biblioteca Pública Municipal (e está ressignificando seu valor) e restaurou a ata de emancipação do município.


O Natal Luz unaiense, com seus enfeites, decorações, luzes, sons e cores são um capítulo à parte. Foi planejado em agosto mas, segundo Luciana Navarro, ficou um pouco abaixo da expectativa (dela), porque nem todo material "pensado" chegou a tempo da China, onde são produzidos a maioria dos piscas de led e outros elementos de impacto visual. A pandemia mexeu até com a fabricação e distribuição dos produtos natalinos fabricados e distribuídos pelos chineses.


EXECUTAR LEI ALDIR BLANC FOI GRANDE DESAFIO E ABRIU HORIZONTES


Com o surgimento da pandemia, o setor cultural foi fortemente impactado, especialmente pelas medidas sanitárias que determinavam o distanciamento social. Atividades culturais e artísticas dependem da presença de público, do contato direto. Resultado: o setor parou.


A Lei Aldir Blanc (LAB) foi instituída para socorrer financeiramente os artistas, fazedores de cultura e toda a cadeia produtiva que trabalha no entorno. Tudo parou. Foram destinados R$ 602 mil para Unaí. Depois de muita burocracia, de muito trabalho, o município executou tudo o que a lei determinava. Do total enviado, somente R$ 13 mil sobraram para ser executados, conforme justifica Luciana. "Duas empresas não conseguiram apresentar a documentação necessária em tempo hábil".


A Sectur teve de interpretar a lei, articular os diversos setores da Prefeitura (e votações na Câmara Municipal) para conseguir viabilizar as dotações orçamentárias, mobilizar a classe artístico-cultural, orientar a elaboração de projetos e, finalmente, cobrar a execução das contrapartidas dos beneficiados com o dinheiro público da LAB.


"Todo esse processo foi muito importante, porque a Sectur tinha conhecimento da classe artística, mas não de toda a classe", revela Luciana Navarro. "A LAB aproximou o artista da gestão municipal, e também conseguimos observar a fragilidade do setor cultural quando precisa buscar recursos". De acordo com a secretária, Unaí conseguiu fazer o que muitos municípios não fizeram, e foram obrigados a devolver o recurso para o Fundo Estadual de Cultura (FEC).


A contrapartida dos beneficiários com o dinheiro da LAB foi entregar (subir nas plataformas digitais, como Facebook e YouTube) apresentações públicas on-line para a Sectur, a maioria sendo exibidas nos meses de fevereiro, março e abril. Todas as contrapartidas foram executadas em 2021, ou precisam ser executadas, e justificadas no sistema do Ministério da Cultura, até o final deste mês de dezembro.


CAPACITAÇÃO PARA ACESSAR RECURSOS: PARCERIA PREFEITURA E SEBRAE


Como vários municípios não conseguiram executar a LAB e tiveram de mandar o recurso para o Fundo Estadual de Cultura, sobraram alguns milhões para o Estado fomentar projetos culturais viáveis. Para isso, o Estado abriria editais para os fazedores de cultura concorrerem às verbas.


Muitos unaienses deixaram (e deixam) de acessar recursos públicos, inclusive em editais dentro do próprio município, por terem dificuldade na elaboração dos projetos. "Percebendo essa necessidade, entramos com pedido de capacitação no Sebrae", conta Luciana. Foram abertas 32 vagas, a fim de contemplar representantes de todos os segmentos culturais. E 280 horas de capacitação, inclusive com qualificação individual, conforme especificação de cada segmento (música, artes cênicas, artesanato, dança etc). O conhecimento adquirido, depois, poderá ser multiplicado entre os colegas.


Eles já estão concorrendo aos recursos do Fundo Estadual de Cultura. "Hoje, temos muito mais artistas preparados para captar recursos, e com mais quantidade de projetos elaborados", revela Luciana. Com a pandemia, não só o setor público, mas também o setor privado tem lançado editais para financiar projetos culturais e artisticamente viáveis. Para Luciana Navarro, "a pandemia tornou-se um marco para o setor cultural do país, também no sentido do fomento, do financiamento das atividades".


FESTA DA MOAGEM VIROU PATRIMÔNIO IMATERIAL DE UNAÍ


Um registro histórico do passo a passo de tudo o que acontece durante a festa, no mês de maio – imagens de arquivos de anos anteriores, entrevistas com os principais organizadores, os vários aspectos dos pousos –, tudo isso resultou no tombamento da Festa da Moagem e do Carro de Bois como patrimônio imaterial do município.


Como uma coisa puxa a outra, a festa também virou motivação temática para a Semana do Museu, realizada em maio, com um tema sempre proposto para valorizar as tradições do município. O museu unaiense passou a abrigar o Memorial do Carreiro – o carro de bois já é um patrimônio do município.


Luciana lembra que foi tudo "muito intenso" na criação desse "Espaço do Sertanejo" dentro do museu, movimentou o segmento cultural. Mas tudo feito de forma virtual. "E tudo pode ser visto pelo público no YouTube (da biblioteca municipal, do museu municipal). Os vídeos estão lá armazenados", conta Luciana.


O imóvel que abriga o museu municipal também é tombado pelo município, ou seja, tem salvaguarda da legislação para ser preservado. "Ele mantém as características originais dos primeiros imóveis unaienses e fica numa região histórica da cidade [bairro Capim Branco].


FESTA DO BOQUEIRÃO: MISSAS ON-LINE E REGISTRO HISTÓRICO


Presencial mesmo na tradicional Festa e Romaria de Santo Antônio, só a entrega de comendas, que ocorreu no Santuário de Santo Antônio, no dia 13 de junho, dia do santo.


As missas de Santo Antônio foram transmitidas on-line em plataformas digitais. Foram feitos registros históricos com imagens das edições anteriores da festa de romaria, que apresentaram as casas e os "causos" do Boqueirão, e ainda os depoimentos de religiosos, romeiros, barqueiros, ciclistas, carreiros, comerciantes e outros agentes que "fazem" a festa.


Luciana observa que "durante as missas transmitidas on-line, em junho, eram exibidas as imagens de edições passadas". Para a secretária de Cultura, "ter as atividades com presença de público suspensas" durante a pandemia permitiu ao município "documentar bem suas principais festas".


CULTURA EM MOVIMENTO VOLTA A MOVIMENTAR A CIDADE


Licitação realizada em agosto selecionou a empresa responsável pela contratação dos artistas e pelo pagamento do cachê pelas apresentações culturais e artísticas em Unaí. O Música na Feira é um dos atrativos do Cultura em Movimento. Estimula o artista, que apresenta seu trabalho, fica conhecido, recebe cachê, e brinda feirantes, visitantes e consumidores. O programa foi retomado em setembro.


As demandas às apresentações do Cultura em Movimento partem tanto da Sectur, quanto de outros setores públicos (Saúde, Educação, Desenvolvimento Social, Trânsito) que, normalmente, pedem apoio para reforçar políticas públicas e campanhas temáticas de conscientização da sociedade. Por exemplo, um grupo de teatro para tratar do tema do Setembro Amarelo, um músico para abrilhantar uma palestra sobre amamentação, um grupo de circo ou de pintura de rostos para alegrar o Dia das Crianças, uma contação de histórias para ilustrar o Dia da Consciência Negra, enfim.


Em setembro, a Banda Municipal Lira Capim Branco também retomou suas atividades. "Está muito requisitada para eventos", enfatiza Luciana. Entre outras agendas, foram marcadas apresentações para a Justiça Federal e para a Sociedade São Vicente de Paulo. Afora as apresentações natalinas.


Por outro lado, a Escola de Música Municipal, que funciona na UAI, ainda não voltou. O que deve ocorrer somente no ano que vem, porque, segundo Luciana, muitos pais ainda estão inseguros para deixar os filhos retornarem. Porém, os estudantes que já tocam na banda, ou os alunos mais adiantados nos estudos, conseguiram material on-line com os professores/maestros para continuarem treinando em casa.


ANO DO CINQUENTENÁRIO DA BIBLIOTECA PÚBLICA


A lei do Sistema Municipal de Cultura trouxe de volta a Biblioteca Pública para o organograma da Secretaria de Cultura. Estava a cargo da Secretaria de Educação. "Estava equivocadamente na Educação – argumenta Luciana – porque a biblioteca pertence a todos os munícipes, e não apenas à comunidade escolar".


A secretária de Cultura diz entender que a Biblioteca Pública deve focar na história do município, registrar aspectos da cultura unaiense e colocar o produto à disposição da população. "Por exemplo: quem foi dona Celina Lisboa, que virou nome de rua? Por que a pedra do urubu tem este nome? Quem são os escritores de Unaí com obras publicadas?". Essas e inúmeras outras respostas, segundo Luciana, devem estar registradas na Biblioteca Pública.


E o reflexo dessa intenção já foi sentido: os 50 anos de fundação da biblioteca foram comemorados com uma homenagem aos escritores unaienses, tanto os vivos quanto os "in memoriam". Eles ganharam um espaço na biblioteca com fotos, biografias e obras publicadas. Um registro em vídeo ajuda a contar a história de cada um.


"No mundo (com a ampliação de acesso à internet), a maior parte das bibliotecas estão sendo fechadas. Em Unaí, vamos fazer diferente, vamos incrementar nossa biblioteca pública e contar nossa história através dela", ressalta a secretária. Projetos estão sendo elaborados e inscritos, vão concorrer a recursos do Fundo Estadual de Cultura, para incremento da biblioteca.


A Biblioteca Pública unaiense é frequentemente procurada por pessoas em busca de um ambiente silencioso e adequado para estudo e leitura. Tem ainda um espaço com computadores com acesso à internet rápida e um acervo com milhares de livros. Tudo à disposição da comunidade.


MUSEU ABRIGA ACERVO QUE CONTA PARTE DA HISTÓRIA UNAIENSE


Além das duas atividades fixas anuais do calendário do Instituto Brasileiro de Museus (Semana dos Museus, em maio; e Primavera nos Museus, em setembro), o Museu Municipal de Unaí expõe um acervo permanente, que conta parte da história do município.


Neste ano, o museu ganhou o Espaço Sertanejo, com o memorial do carreiro de bois. E, em breve, abrigará também uma cópia da Ata Histórica de Emancipação do Município de Unaí. Com algum nível de deterioração, o documento está sendo restaurado em Belo Horizonte. Ao retornar a Unaí, a ata original seguirá exposta no gabinete do prefeito. Uma réplica do documento (já restaurado) será exibida no museu municipal.


O museu retornou com suas "visitas guiadas" no mês de agosto. O público escolar é o que mais demanda visitas. O equipamento fica aberto de 2ª a 6ª, no horário de funcionamento da prefeitura. Mas, pode ser aberto no fim de semana, excepcionalmente para visitas guiadas, desde que pré-agendadas.


DECORAÇÃO NATALINA ILUMINA E ENCANTA


Os preparativos para enfeitar a cidade iniciaram-se ainda em agosto. Na decoração natalina, a Sectur conta com o apoio da Penitenciária Agostinho de Oliveira Júnior. Presos constroem artigos natalinos, modelam enfeites. A equipe da secretaria cuida da instalação, com o apoio de eletricistas.


A pandemia impactou até os fabricantes e distribuidores de pisca-pisca e outros enfeites produzidos na China e vendidos mundo afora. "O planejamento do natal começou em agosto, mas atrasou um pouco [a execução]", observa Luciana. "Está sendo mais difícil conseguir o material que a gente queria. Tem planejamento que não vamos executar este ano, porque não conseguimos material".


Mesmo tendo de reduzir um pouco nos enfeites, a decoração natalina já está iluminando a Praça JK, a avenida Governador Valadares, o Hospital Municipal, as entradas da cidade, a ponte e o viaduto. A ideia era enfeitar as praças unaienses, mas não vai dar este ano. A Sectur resolveu dar destaque para a Praça JK (da Prefeitura) e a Praça da Matriz, esta por fazer parte da "entrada da cidade".


"Muita gente visita os pontos de decoração natalina, unaienses e visitantes. Perguntam se contratamos grandes empresas para fazer o serviço. Quando sabem que nós mesmos fizemos, admiram", conta Luciana. Um dos cuidados da equipe está na desmontagem e montagem dos equipamentos, no sentido de haver o mínimo de perdas e danos possíveis do material. "Parte é sempre aproveitada no ano subsequente".


Já o Papai Noel seguirá no "estilo pandemia", sem casinha na Praça JK, sem parar por muito tempo nos pontos onde vai percorrer (bairros e distritos) e sem muita aproximação das crianças, para obedecer às regras de distanciamento impostas pelos protocolos sanitários. "Para manter uma distância de segurança e poder percorrer os locais, o Papai Noel será transportado em cima de um trio elétrico (veículo mais alto)", revela a secretária.


Além de percorrer bairros e distritos da cidade, o bom velhinho deve visitar endereços fixos, como a Apae, o Abrigo Frei Anselmo e o Hospital Municipal.

 

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