Gruta do Gentio volta a ser objeto de pesquisas arqueológicas; prefeito recebe coordenador de trabalhos já iniciados

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O prefeito José Gomes Branquinho recebeu o pesquisador Francisco Pugliese, na manhã dessa sexta-feira (17/12). Integrante da equipe de pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do projeto de exploração, Pugliese deu detalhes gerais da pesquisa que será desenvolvida na Gruta do Gentio nos próximos anos. A secretária municipal de Cultura e Turismo, Luciana Navarro, participou da reunião. Ela representará a Administração Municipal no contato com os pesquisadores.


Pugliese solicitou apoio da Prefeitura para abertura e manutenção de um novo acesso à gruta (e o fechamento do acesso liberado à população) e construção de uma base para os pesquisadores, que estão alojados na fazenda do Gentio. A base será no próprio local.


Branquinho indagou Pugliese sobre a autorização do dono da fazenda para movimentação na área e sobre a segurança dos pesquisadores durante as escavações, temendo eventuais desabamentos.
O pesquisador respondeu ao prefeito que foram muito bem recebidos na fazenda, autorizados a circular, estabelecer uma base, e que o local das escavações é bastante estável para a realização dos trabalhos.


"O local onde estamos fazendo as escavações fica mais próximo da entrada da gruta, está estável há pelo menos 5 mil anos. Mas essa parte sofreu alguns colapsos entre 5 mil e 10 mil anos atrás", revela o pesquisador. Com relação à base que servirá de alojamento e apoio aos pesquisadores, a Administração Municipal quer conhecer detalhes e avaliar a legalidade da parceria.


O grupo de pesquisadores conseguiu autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para explorar a Gruta do Gentio, inicialmente, por dois anos. No período (iniciou as atividades em fevereiro de 2021), estão proibidas visitas da população à gruta. O acesso é permitido somente a pesquisadores ou a pessoas guiadas por eles.


De acordo com Pugliese, o sítio do Gentio – que está sob responsabilidade do Iphan (órgão federal) – "estava aberto e sem controle", o que provocou perdas e danos do ponto de vista da pesquisa arqueológica.


"Pessoas (curiosas, mas sem informação de qualidade) e animais (principalmente porcos) pisotearam (por muito tempo) material com muita relevância arqueológica. Escreveram nomes e datas nas paredes da gruta, isso é prejudicial por causa dos painéis rupestres", avalia.


O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e é parte do curso de pós-doutorado que Pugliese faz na Flórida (EUA).


Porém, não é a primeira vez que arqueólogos e outros pesquisadores exploram a gruta unaiense. Muitos dados já eram conhecidos a partir de escavações feitas nas décadas de 1970 e 1980.
O coordenador da pesquisa lembra que "passaram-se mais de 40 anos daquelas escavações na gruta do Gentio, quando encontraram uma múmia bem conservada, Acauã. Hoje em dia, retomamos a pesquisa com técnicas mais modernas, para entender um pouco melhor o que foi o longo período de ocupação daquele local".


A PESQUISA


A Gruta do Gentio está situada a 36 quilômetros de distância do Centro da cidade (no sentido Garapuava/Jataí) e é um dos principais sítios arqueológicos da América, um dos locais mais antigos de ocupação humana do continente e dos mais importantes sítios para a arqueologia brasileira.
"Não só antigo, mas contínuo", dispara Pugliese. "Temos mais de 20 datas (estimadas no Gentio) que se estendem entre 12,5 mil anos e 300 anos atrás. Na gruta do Gentio tem um cemitério ativo desde o início da ocupação deste continente, que ocorreu entre 10 mil e 12 mil anos atrás".


Ele conta que até o século 17, durante o ciclo do ouro, ainda havia gente sepultando seus mortos lá. Revela que, nos últimos 4 mil anos se intensificou a atividade de cemitério na gruta do Gentio, principalmente com o sepultamento de crianças. Segundo o pesquisador, as primeiras escavações revelaram ossos de dezenas de indivíduos, mas principalmente ossos esparsos de crianças até 12 anos.


A múmia Acauã, menina cuja idade fora estimada em 12 anos quando morreu, foi achada "bem preservada" em escavações arqueológicas feitas por pesquisadores do Instituto de Arqueologia Brasileira nos anos 1970. A múmia "unaiense" encontra-se no Rio de Janeiro.


"Estamos coletando carvão, amostras de sementes, de ossos, vamos levar para a Flórida (Estados Unidos), e refinar essa cronologia para entender melhor esse período de ocupação humana", explica o cientista.


A escolha da gruta do Gentio para a pesquisa, segundo Pugliese, tem a ver com o "contexto de preservação excepcional" encontrado no sítio arqueológico. "Preservação nunca vista em contexto de terras baixas", salienta.


De acordo com o pesquisador, a preservação da matéria orgânica na gruta do Gentio "é tão fantástica", que os sepultamentos ainda apresentam partes moles como peles, órgãos, cabelos, penas de animais, tudo encontrado em "fantástico estado de preservação". Ele explica que características assim só são encontradas em situação climática de deserto e em altas altitudes.


Mas, na gruta do Gentio não foram encontrados apenas restos mortais ou parafernália funeral. Têm ali instrumentos líticos (feitos de pedra), fragmentos cerâmicos, pedaços de tapeçaria, de cestaria, couros, contas, adornos místicos, adornos em contas, entre outros materiais que estão sendo coletados.


PROJETO ENVOLVE EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE PESQUISADORES


Com o avanço da exploração, novas descobertas implicam a participação de outros pesquisadores. As descobertas de painéis de pintura rupestre (nas paredes da gruta) e um calendário solar (com um extremo marcando o solstício de verão, outro extremo apresentando o solstício de inverno, o período das chuvas e uma graduação de dias) vêm atiçando ainda mais a curiosidade dos cientistas sobre o sítio unaiense.


Também já começaram os estudos de perfis estatigráficos (das camadas de solo abertas), para melhor entendimento da cronologia da ocupação da região, que se estende há 12 mil anos.
Especialistas de várias nacionalidades (Estados Unidos, Inglaterra, Uruguai, Colômbia), que atuam em universidades brasileiras, estão envolvidos na pesquisa, investigando microvestígios botânicos, macrovestígios botânicos, zooarqueologia, estratigrafia dos períodos das camadas de ocupação do sítio, entre outros.


"A arqueologia é multidisciplinar, trabalha com especialistas de várias áreas", explica Pugliese, ao lembrar que o projeto envolve ainda alunos da USP e da UnB, e outros acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, que estão desenvolvendo seus projetos para a área.


BENEFÍCIOS FUTUROS PARA UNAÍ


O pesquisador diz enxergar alguns níveis de benefícios para Unaí como desdobramento do projeto, mas tudo obedecendo a uma cronologia (decurso de tempo). O primeiro é a estabilização do estado de conservação da gruta do Gentio, um dos mais importantes sítios arqueológicos do continente. "Não se perderão contextos arqueológicos mais, em razão da visitação descontrolada".


Outro benefício é a circulação das informações e levantamentos resultantes das pesquisas. Ele diz que a pretensão do projeto é que as informações produzidas passem a ser absorvidas pela comunidade unaiense, que cheguem às escolas, às atividades culturais, às atrações turísticas.
"Nosso papel é proporcionar que informações de qualidade circulem. Queremos legar a vocês a cartografia (descrição de mapas) do patrimônio espeleológico (grutas e cavernas) e arqueológico de Unaí".


Com os resultados, garante Pugliese, pode-se estabelecer critérios e trajetos (junto com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) para o desenvolvimento do turismo arqueológico na região. "E, para o futuro, capacitar guias, técnicos e pessoal graduado, com especialização na área. A região poderá ter uma massa crítica formada que poderá dar desenvolvimento institucional ao turismo. O potencial é incrível".


O pesquisador evoca o caso do município de São Raimundo Nonato, no Piauí, onde há também maravilhosos sítios arqueológicos, abertos a turistas e visitantes. Um caso de sucesso.
"Houve envolvimento da comunidade, iniciou-se ali um curso de graduação em arqueologia que proporcionou a formação de diversos arqueólogos locais e uma estrutura fantástica, que atrai hoje em dia gente do mundo inteiro para lá".

 

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