Setembro Amarelo: “ouvir a pessoa e dar-lhe atenção pode aliviá-la e livrá-la do suicídio”, diz voluntário do CVV

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"Amar o outro, cuidar do outro, zelar pelo outro, se preocupar com o outro deveria ser o comportamento normal do ser humano, como tomar água, dormir ou se alimentar. Infelizmente, a sociedade afasta, discrimina, julga, e a gente não presta atenção no outro". Foi com essa expressão que o voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Brasília, Gilson Moura de Aguiar, iniciou palestra no auditório da Capul, nessa quarta (26/9). O evento é uma das ações do Setembro Amarelo e foi uma iniciativa do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), órgão da Secretaria Municipal da Saúde, em parceria com o CVV de Brasília. A palestra foi acompanhada por servidores e pacientes do CAPS Unaí, agentes comunitários de saúde, estudantes do curso de psicologia da Facisa e representantes da Casa da Amizade Marlene Vieira Coelho (família rotária).

 

Na continuidade da palestra (na qual abordou o funcionamento do CVV, o suicídio e o Setembro Amarelo), Gilson observou que essa sociedade que "pressiona, cobra e discrimina" é a mesma que cria mecanismos de enfrentamento dos problemas decorrentes. O Centro de Valorização da Vida é um desses "achados" que dão apoio emocional a pessoas em dificuldades ou com transtornos que podem levar ao suicídio.

 

"Até uns seis anos atrás, o suicídio só acontecia na quadra do outro, na cidade do outro, no quintal do outro. Hoje não, acontece dentro da nossa casa e atinge pessoas ao nosso lado, sem que a gente perceba", ressaltou o representante do CVV.

 

Segundo ele, a pessoa que vai cometer o suicídio emite uma série de sinais: muda o comportamento, diz que está cansada de viver, que está com vontade de desaparecer. "E mesmo assim, a gente não faz nada. Aliás, a gente julga, avalia e diminui o sentimento da pessoa. A gente fala que é falta de coragem, que é falta de Deus. E não é. Ela está sofrendo, é angústia, tristeza. Não é falta de Deus, senão religiosos não seriam acometidos pela tristeza, pela depressão e pelo sofrimento psíquico. E muitos são".

 

A pessoa que sofre, segundo Gilson, precisa ser ouvida. Essa a proposta do CVV: acolher e dar atenção às pessoas que precisam "falar", botar pra fora. E, na outro ponta, está o ouvinte: é preciso valorizar o sentimento do outro, ouvindo o outro, se colocando no lugar do outro, e principalmente, respeitando o outro. O palestrante explica que a pessoa que procura o CVV é quem deve achar uma solução para o próprio problema. "A solução está dentro dela, que deve buscar a saída. O CVV ouve o desabafo, facilita a compreensão, oferece o apoio".

 

Todos os atendimentos feitos no CVV (cerca de 10 mil por dia em todo Brasil) são anônimos e sigilosos. São 80 postos espalhados pelo país, com 2.200 voluntários. Para ser voluntário do CVV, a pessoa deve ter mais de 18 anos, doar quatro horas por dia para a causa e ter um grande amor pelo outro. "Possuir um espírito samaritano", Gilson Aguiar definiu.

 

Mais informações, no www.cvv.org.br

 

Ligação gratuita 188, inclusive de celular

 

O CVV ouve gratuitamente as pessoas em dificuldades emocionais, incluindo aquelas que estão em vias de suicídio. O atendimento pode ser via telefone, e-mail ou presencial (na própria unidade).

 

O número de telefone 188 (Como Vai Você?) é gratuito para todo o Brasil, e a ligação pode ser feita até por telefone celular. O atendimento é feito 24 horas por dia, sete dias na semana, 365 dias no ano. Não para nunca. Os voluntários que trabalham no CVV são treinados para "ouvir" as pessoas.

 

O voluntário deve estar disposto a ouvir o outro, não pode interferir, julgar ou se posicionar diante "da fala" da pessoa que faz a ligação, conforme atesta Gilson, que há 18 anos atua na entidade. "Quando a pessoa fala, ela se alivia, acha sua própria saída. Nós respeitamos as decisões que ela manifesta, inclusive o direito que ela expressa de querer suicidar-se".

 

O alívio, o desabafo, como consequência do "falar", pode ser o principal fator que explica o menor índice de suicídio das mulheres em relação aos homens. A proporção aponta quatro suicídios masculinos para cada suicídio feminino. Gilson explicou que "as mulheres falam, desabafam, conversam com as amigas. Homens se fecham, se trancam, represam as emoções. Porque acham que não podem dar sinais de fraqueza ou fragilidade perante a família e a sociedade. E aí surgem os efeitos".

 

Apoio ao sobrevivente de suicídio

 

O CVV criou também o Grupo de Apoio ao Sobrevivente de Suicídios. O GAS dá sustentação emocional aos sobreviventes ou às famílias (de suicidas) que compartilham suas histórias e buscam ajudar-se mutuamente. Tudo é feito anônima e sigilosamente, como no movimento de ajuda mútua Alcoólicos Anônimos (AA).

 

Em Brasília, existem dois GAS, um na Asa Norte, outro em Taguatinga. A ideia é criar um GAS em Unaí, com o apoio do CVV Brasília. As tratativas para a criação já estão sendo articuladas.

 

A cada 45 minutos, uma pessoa tira a própria vida no país. No Brasil, são 11 mil mortes por ano por suicídio, com viés de subida (se pouco ou nada for feito na contenção). É a quarta causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos.

 

"As famílias preferem esconder que houve o suicídio de um membro, sentem vergonha. Isso precisa ser superado. É necessário falar sobre suicídio em qualquer lugar, principalmente dentro das famílias. É preciso falar com crianças, adolescentes, com todos, e buscar soluções", enfatizou o palestrante.

 

Setembro Amarelo

 

O Setembro Amarelo foi criado para "falar sobre o suicídio" e demonstrar que nove em cada dez casos poderiam ser evitados, caso houvesse atendimento ou acolhimento a tempo de salvar a vítima. Para o CVV, a campanha de informação e conscientização, com ponto alto nas atividades de setembro, é uma importante ferramenta de prevenção e combate ao suicídio.

 

Em Unaí, o mês foi repleto de atividades, que ainda estão ocorrendo. Tudo sob coordenação do CAPS. O Centro de Atendimento Psicossocial atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Possui equipe multiprofissional para esses atendimentos.

 

Segundo as estatísticas, a maioria dos casos de suicídio tem como causa o agravamento dos transtornos mentais: ansiedade, depressão, esquizofrenia, bipolaridade, síndromes e fobias específicas. Autoridades de saúde mental afirmam que controlar os transtornos é uma das formas mais eficazes de prevenção ao suicídio.

 

O CAPS funciona na Avenida Transamazônica, 395, bairro Divineia. O telefone é o 3677-2741.

 

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