Uma celebração diferente no dia da pessoa com deficiência

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- Espaço ao ar livre e boa música marcaram a comemoração em Unaí, mas também houve reflexões e lembranças de ajustes que precisam ser feitos

 

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania (Semdesc) fez uma parceria com o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Unaí (Comped) e promoveram uma comemoração diferente nesta quarta-feira, 11 de outubro, Dia da Pessoa com Deficiência.

 

Um café da manhã musical para celebrar a data. Debaixo de árvores, perto do córrego Canabrava. O evento foi prestigiado por algumas pessoas com deficiência (PCD), profissionais que cuidam delas (com destaque para a Residência Inclusiva da Prefeitura e o Centro Dia da Apae) e servidores da Semdesc.

 

Marcaram presença a secretária Cláudia Maria de Oliveira (Desenvolvimento Social e Cidadania) e o presidente do Comped, Demétrio Antônio Ferreira Neto (o Netinho do Mamoeiro).

 

A execução da música instrumental ficou por conta do maestro regente da Banda Municipal, Elias Pires, e do maestro-adjunto Cléber da Silva Costa, ambos vinculados à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

 

“É uma oportunidade para a população notar que no município vivem várias pessoas com deficiência. Não somos pessoas inválidas ou improdutivas. Somos pessoas que precisam de espaço, de sermos notados, para termos melhoria na nossa qualidade de vida, na saúde, na educação, no desenvolvimento social, no lazer, no desporto. É dia de lembrar que nós existimos, somos cidadãos e precisamos do espaço (inclusivo) e com o respeito de toda a população”, discursou Netinho.

 

NEM TUDO SÃO FLORES

 

Não faz muito tempo, a visão da sociedade é de que a PCD tinha de ficar em casa, escondida pela família, viver de forma improdutiva, excluída da convivência da sociedade, alijada da escola, do mercado de trabalho, afastada da sociedade, das atividades de consumo. Hoje, as políticas públicas avançaram, a legislação vai atendendo as demandas das pessoas com deficiência e suas famílias, espaços de discussão foram criados, houve quebra de barreiras e adoção de medidas de inclusão.

 

Porém, segundo Netinho, medidas práticas de inclusão e respeito às leis ainda precisam ser fiscalizadas, tanto por governos quanto pela sociedade. A questão da acessibilidade é sempre um gargalo a ser superado: calçadas alinhadas e desimpedidas, prédios públicos e empresas/comércios com estruturas que facilitem o acesso, salas de aula com professores de apoio, e reuniões públicas (como as que ocorrem na Câmara Municipal) com tradutores de Libras para surdos-mudos são alguns dos desafios que Unaí vem enfrentando, ou precisa enfrentar.

 

“Conforme os governos vão trabalhando, conselhos trabalhando, associações de apoio trabalhando, a sociedade caminhando junto, e a Semdesc mostrando que a PCD precisa ser atendida em suas necessidades, incluída e avançando socialmente, aí a gente consegue fazer as adaptações”, resume o presidente do Comped.

 
O município possui ainda importantes grupos de apoio às PCD, como a Associação da Pessoa com Deficiência de Unaí (APDU) , o grupo de cadeirantes “Unaí sem Limites” e a Associação das Mães de Autistas de Unaí (AMA).

 

ÚLTIMAS CONQUISTAS

 

Netinho reconhece que a Administração Municipal tem atuado em face das diversas demandas. Entre as quais, citou a implantação da Residência Inclusiva, para acolhimento de PCD com idade entre 18 e 59 anos, sem amparo familiar e sem condição de se autossustentar. Em pouco mais de um ano de funcionamento, são 13 acolhidos. “Unaí é uma das poucas cidades no Brasil que possuem residência inclusiva”, elogia.

 

Ele lembra também da instalação do elevador no prédio da Prefeitura, das parcerias com a Apae (Centro Dia e Serviço de Reabilitação), da contratação de professores na rede municipal de ensino para apoiar os alunos com variados graus de Transtorno do Espectro Autista e outros tipos de deficiência, da aquisição de ambulâncias que facilitam a acessibilidade de PCD.

 

Porém, além da acessibilidade e da busca de uma Unaí sem barreiras, principalmente nas calçadas, Netinho lembra ainda que têm aumentado muito os casos de crianças com o transtorno do espectro autista. “E falta profissionais na área de saúde para fechar o diagnóstico dessas crianças”, ele observa, acrescentando que os autistas atualmente são considerados PCD. Escalam também os casos de pessoas que sofrem acidente vascular cerebral (AVC – popular derrame), observa Netinho, e que passam a ter as mesmas demandas das PCD.

 

MAIS ACESSIBILIDADE, MENOS DISCRIMINAÇÃO

 

“O Estado tem feito sua parte vagarosamente, mas não para” e “o que mais pega hoje em Unaí é a (falta de) acessibilidade”. Foi a manifestação de Vilma de Fátima Fernandes. Ela é membro do Comped e trabalha na Junta Reguladora da Central de Regulação de Saúde de Unaí, mas o que a torna mais especial é ser mãe do Marcos Fernandes Gonçalves, de 31 anos, pessoa com deficiência física e intelectual.

 

“Como mãe do Marcos, vejo que a acessibilidade é o pior problema. Penso que deveriam cuidar melhor dos espaços tanto públicos quanto privados. É só pensar que onde passa um cadeirante, um idoso, um portador de muleta ou de bengala passa todo mundo”, ressalta Vilma.

 

Governos e sociedade, em sua opinião, precisam agir para garantir o acesso (sem barreiras) das PCD (como cidadão, contribuinte, consumidor) a uma faculdade, a uma empresa, um comércio. E também assegurar o acesso ao mercado de trabalho, atendendo as cotas que a lei prevê.

 

“PCD com limitações menos graves conseguem trabalhar normalmente, claro que dentro de suas limitações”, explicou Vilma. “Há várias pessoas que já saíram da Apae, do Centro Dia, do Serviço de Reabilitação, estão prontas para trabalhar. E podem fazer isso”.

 

A severidade do grau de dependência de seu filho, Marcos, no entanto, impede que ele trabalhe. “A lesão foi grave”, ela conta.

 

Contudo, Marcos estudou na Escola Especial João da Neca, na Apae Unaí. Depois dos 18 anos, continuou os atendimentos no Centro Dia da Apae, contando com o apoio de fisioterapeuta, fonoaudiólogo e com espaços de convivência.

 

Apesar de o Estado fazer sua parte (“vagarosamente, mas não para”, segundo Vilma), por parte da sociedade ainda há muito preconceito e discriminação em relação às PCD. “Infelizmente, ainda existe. A sociedade precisa abrir mais a cabeça, melhorar a mente, amar mais”, afirma a conselheira e mãe zelosa.

 

“TIVE DIFICULDADES, FOI TUDO LUTA, MAS ME SINTO VITORIOSO”

 

Netinho do Mamoeiro foi vítima do vírus da paralisia infantil (poliomielite) aos quatro meses de idade. “Na década de 70, a doença ainda não havia sido controlada por meio de vacinação”, ele conta.

 

O comprometimento na perna direita nunca impediu que Netinho corresse atrás de seus objetivos e vivesse uma vida normal, especialmente no trabalho. “Sou servidor público da Prefeitura há 25 anos, e antes trabalhei numa empresa. Sempre contribuí para a Previdência”.

 

Ele também jogou bola, organizou torneios, atuou em associações, foi vereador. “Faço cavalgadas, dirijo automóvel”. Hoje, usa uma órtese, que dá mais sustentação à perna. “Depois dos 35 anos, a pessoa (que teve paralisia infantil) começa a desenvolver a síndrome pós-pólio. Surgem alguns sintomas como envelhecimento precoce dos nervos, músculos, ossos, cartilagens, surgem problemas na coluna”, explica.

 

Mas nunca desanimou: “tive alguma dificuldade, mas foi tudo luta. Me sinto vitorioso”, arremata.

 

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