Moradores e comerciantes pedem solução para pessoas em situação de rua “vivendo” na praça Sandoval Martins

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A Administração Municipal organizou reunião no auditório da Capul, nessa sexta-feira (20/10), para ouvir as reclamações e as reivindicações de moradores e comerciantes e, a partir das exposições, buscar soluções conjuntas (poder público e sociedade organizada) para os problemas manifestados.


Como a condição da pessoa em situação de rua (PSR) acaba por atingir toda a sociedade, foram convidados representantes da Prefeitura que prestam atendimento a esse público (em obediência às leis vigentes no país), igrejas/entidades e associações de caridade, representantes dos moradores e comerciantes que reclamam da situação e autoridades representativas do poder público: Polícia Militar, Defensoria Pública, Ministério Público e Poder Judiciário.


Dessas autoridades, somente representante da Polícia Militar esteve presente. Outras ausências foram justificadas por questões de agenda de trabalho.

 

PEQUENOS FURTOS, AGRESSIVIDADE, NUDEZ, SEXO, DROGAS E INCÔMODOS VÁRIOS

 

A maior parte dos representantes de moradores e comerciantes reclamou do comportamento das pessoas em situação de rua que vivem “tranquilamente” na Praça Sandoval Martins. Segundo observaram, eles passam os dias incomodando quem mora por ali ou tem o seu comércio na vizinhança.

 

MORADORES

Representando o pai e a mãe idosos que moram nas imediações do P.A., Roosevelt Oliveira considerou a situação perigosa e delicada. “Tá perigoso, porque eles são muito agressivos. Tá tendo muita briga, muito estupro na praça”, revelou.

 

A questão da segurança pública foi lembrada por Roosevelt: “tem presença de traficantes na praça, tem de cuidar, se não vai virar uma cracolândia”, afirmou, cobrando também mais iluminação, instalação de câmeras 360° e policiamento efetivo no local.

 

SINDICATO RURAL

 

O representante do sindicato dos produtores rurais, com sede na praça Sandoval Martins, Leontino Santos também reclamou muito. “É cada vez mais difícil fazer o atendimento dos associados. Pessoas em situação de rua que vivem por ali defecam nas calçadas, fazem sexo a qualquer hora, usam droga a qualquer hora. Não respeitam ninguém, não temem a polícia”.


Quem trabalha no sindicato, segundo Leontino, precisa travar o portão, para evitar que o espaço seja invadido. “Porque estão ameaçando e agredindo”, disparou. Ele também cobrou mais iluminação e mais policiamento na praça, principalmente para inibir a presença de supostos traficantes.

 

COMERCIANTES

 

Warlon Martins mora na praça há 41 anos. E instalou um bar no local. Segundo ele, se nada for feito rapidamente em relação às PSR, em poucos meses terá de fechar seu comércio, porque os clientes estão evitando o local.

 

“Isso acontece porque está na porta da minha casa, da casa do Joel, do Toninho, da Adna que temos de aturar isso até não sabemos quando. Mas, se fosse na porta da casa de alguém ‘importante’, eles não estariam lá mais”, desabafou Warlon, observando que se parassem de alimentá-los lá na praça, a situação tenderia a melhorar.

 

O Supermercado BH também está tendo problemas com quem “vive” na praça Sandoval Martins, segundo o gerente Paulo Henrique. Ele afirmou que funcionários e clientes reclamam muito do comportamento das PSR que ficam nas imediações, principalmente à noite.

 

“Está afetando os negócios, com perda de clientes, o que logo pode resultar em desemprego”, alertou o gerente, pedindo providências quanto à retirada de quem fica na praça.

 

Como “é geral” o descontentamento dos comerciantes vizinhos, Eurípedes da Silva (representando a categoria) entregou um abaixo-assinado à secretária municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania, Cláudia de Oliveira.

 

O documento faz algumas reivindicações à Administração Municipal, sugerindo medidas de urgência em busca de soluções. “Do jeito que está a situação, daqui a pouco teremos de fechar, porque eles estão abordando nossos clientes na entrada dos estabelecimentos”.

 

COOPERATIVA


O diretor-executivo da Capul, Claudimar Oliveira, disse que as pessoas em situação de rua que “vivem” na Praça Sandoval Martins também geram muitos problemas para a cooperativa. “São extremamente agressivos, não aceitam nenhuma abordagem de nossos vigilantes, ameaçam clientes exigindo produtos do supermercado e até cometem furtos deliberadamente”.

 

Banheiros vandalizados (usam para banhos na pia e até masturbação) e furtos de torneira, de papel higiênico e de papel toalha estão entre os delitos que, segundo Claudimar, eles praticam nas dependências da Capul. A suposição é que trocam (objetos de furto) por drogas. “O problema da Capul é grande com essa turma. A situação fica cada dia mais grave”, desabafou.

 

Para o diretor, providências devem ser tomadas urgente e imediatamente. “Senão, a iniciativa privada terá de adotar medidas mais drásticas, como contratar segurança armada. Porque não dá mais para conviver com isso”.

 

HOSPITAL MUNICIPAL

 

A assistente social do Hospital Municipal, Aracelly Alves afirmou que a unidade também é prejudicada pelas pessoas em situação de rua. Algumas, inclusive, dormindo nas imediações do Laboratório Municipal.

 

Ela desabafa: “nossos profissionais são ameaçados e agredidos. As PSR invadem o tempo todo as instalações do hospital, degradam os banheiros, furtam lençóis, roupas, papel higiênico, arrancam torneiras dos banheiros, quebram os vasos sanitários, fazem sujeira, tomam banho e impactam profundamente nossos serviços de limpeza”.

 

Na parte do atendimento médico, Aracelly afirmou que a violência está aumentando entre as pessoas em situação de rua na praça. “Há muito uso de droga, nudez, prática de sexo. Ocorre que temos atendido mulheres estupradas que acabam impactando o atendimento do hospital".

 

IGREJAS E ASSOCIAÇÕES DE CARIDADE OFERTAM ALIMENTOS

 

Muitos dos presentes creditaram a permanência das pessoas em situação de rua na praça à doação de alimentos. A tenente Patrícia Vassalo, da Polícia Militar, observou que a maioria das pessoas em situação de rua que está na praça, ali permanece, por causa da comida que chega facilmente para elas.

 

“Fornecer marmita e alimentação é uma questão de humanidade? Sim, mas favorece. Isso mantém eles ali e acaba atraindo mais moradores de rua para o local”. Para a tenente, uma solução seria mudar constantemente os locais de distribuição de alimentos, ao invés de ficarem num lugar só. De preferência, espaço fechado.

 

“Pátios de igrejas, por exemplo, seriam um bom lugar para isso e ainda poderia facilitar as orientações (espirituais, religiosas, de cidadania)”, a oficial sugeriu, acrescentando que também poderia ser feito um trabalho de conscientização com a sociedade, a fim de que não oferecesse dinheiro às PSR.

 

“Eles juntam o dinheiro, fumam pedra (crack), ficam incomodando as pessoas, pedindo. A polícia vai lá, aborda. Se tem mandado de prisão contra a pessoa, conduz. Se não tem mandado, não tem o que fazer, não pode tirar eles do local. Eles Incomodam, mas sem crime, não cabe prisão”, explica a tenente Vassalo.

 

AÇÕES, REAÇÕES E BUSCA DE SOLUÇÕES

 

“Temos um problema familiar, um problema público e um problema espiritual aí”, disse o pastor Cássio, cuja igreja que representa faz um trabalho de assistência à saúde direcionado às pessoas em situação de rua (em parceria com a Secretaria de Saúde – PSF Centro) e fornece marmitas para eles, principalmente às sextas-feiras.

 

“Procuramos ajudar como igreja, como pai, como cidadão. Detectamos o problema e oferecemos as marmitas (só saímos de lá depois que todos se alimentam), mas também fazemos orações, temos um trabalho espiritual”, explicou.

 

Bruna Íris, da Associação Cantinho da Solidariedade, afirmou que há nove anos oferta marmitas às pessoas em situação de rua que ficam na praça Sandoval Martins. Ela criticou quem propõe a retirada das PSR da praça.

 

“Vocês estão reclamando, porque a oferta de alimentos a eles está prejudicando o comércio. Porque vocês acham que o dinheiro tem mais valor do que uma vida. Por trás daquela vida existe um pai, uma mãe, um filho que sofrem”. Ela sugeriu a instalação de um albergue para acolher essas pessoas.

 

Representante da Associação dos Voluntários do Hospital Municipal, Neuzani Soares Branquinho disse que a Avouna oferece lanches para pacientes e acompanhantes que esperam por atendimento no Hospital Municipal.

 

Esporadicamente, pode ocorrer de alguma pessoa em situação de rua se beneficiar da distribuição desses lanches. “Nosso público-alvo não é a pessoa em situação de rua. Vamos rever melhor isso, porque não temos como definir o público atendido. A pessoa chega ali, com fome, nós damos o lanche (biscoito, leite, chá, café). Tem também o pessoal da jantinha, muito elogiado. Se estamos prejudicando, vamos achar uma melhor forma de resolver”.

 

Focar na solução também foi a proposta do frei Geraldo, da Casa da Acolhida Nossa Senhora do Carmo. “Estamos todos interessados em resolver. As igrejas também querem ser parte da solução. Como igreja, precisamos repensar algumas coisas. Vivemos numa sociedade complexa. As parcerias é que vão resolver. Vamos encontrar uma solução”.
Uma coordenação (ou comitê) municipal será formada para discutir todas essas questões e sugerir soluções para o problema em Unaí.

 

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